Não
tem para onde fugir: câmeras para todos os lados, nos banheiros,
quartos e cozinha. Tem câmera no jardim, na piscina e na sala de
estar. Nesta última, curiosamente, uma televisão que conecta o
mundo paralelo da casa vigiada com o mundo externo, através de um
elo único representado pelo mestre-sala do grande jogo.
Você
não está errado. Estou mesmo falando do Big Brother Brasil.
Dessa
vez vamos interromper o play novamente. É necessário para o que nos
propomos nessa jornada. Como já sabemos, a Rede Globo fez um acordo
com o YouTube, nosso objeto de estudo, fazendo com que os programas
da emissora fossem retirados do site. Um método eficaz para garantir
um alto número de acessos ao site principal da empresa. Mas, em um
momento no qual trazendo à baila discussões sobre privacidade e
meios de comunicação massivos, essa é uma boa discussão, e não
podemos deixar de fora. Então, mais uma vez, vamos mudar a
plataforma de nossos vídeos.
No
próximo ano, o reality show Big Brother Brasil apresentará ao
público sua 15º edição. O formato ainda é basicamente o mesmo,
ainda que traga alterações e novidades em cada ano (afinal, é meio
difícil manter o sucesso da atração apostando apenas em seus
personagens caricatos): uma dezena de participantes, supostamente
escolhidos a esmo,
todos colocados na mesma casa. Disputam o prêmio milionário e a atenção e preferência do público, estando sempre ameaçados por eliminações semanais. Tudo isso, claro, enquanto as
câmeras instaladas na casa mostram para o público tudo o que
acontece lá dentro.
Satisfaça sua curiosidade e espie / Foto: Reprodução
A
semelhança com a obra de George Orwell não é mera coincidência. O
formato, inspirado no modelo de 1999 criado por John de Mol nos
Países Baixos, se baseia na distopia de Orwell, de uma cidade
amplamente vigiada pelo
governo, com, dentre outros métodos, câmeras por todos os lados. A
coisa toda atinge em cheio à massa de telespectadores. Quem não
sente uma curiosidade irresistível pela vida alheia? Some isso às
constantes brigas, gritos, romances e pessoas bonitas, e tem-se uma
receita para o sucesso.
Romances contínuos são a receita para o sucesso.
A
atração se expande aos outros meios: na internet, um site que
mostra a evolução dos seus personagens-reais favoritos, jogos para
entreter, uma loja com os produtos da marca, configurando toda uma
estrutura crossmídia. Mas isso não é tudo. Você também pode
conferir vídeos do que as pessoas fazem lá dentro, rever partes
legendadas e, para os mais viciados, acompanhar tudo por um sistema
de pay-per-view, tendo acesso às câmeras da casa 24h por dia.
Essa
desistência gratuita da própria privacidade parece fascinar o
público, que fica atento a todos os movimentos da casa. Questões
sobre a qualidade do programa à parte (a crítica de Veríssimo
ilustra bem o que muitas pessoas julgam sobre a atração), é
inegável o sucesso do mesmo. Do contrário, ele certamente não
estaria há 15 anos no ar. O que é tão fascinante em observar a
rotina do outro?
Na
nossa Sociedade da Vigilância, nunca foi tão fácil observar o que
o outro faz. Seja na televisão, com programas que exibem 24h tudo
que um grupo de pessoas faz, seja na esfera mais pessoal, na qual
acompanhamos avidamente nossas redes sociais, monitorando o que
amigos e conhecidos fazem ou deixam de fazer. A questão é: a
exibição se torna gritante, e cada vez mais expomos nossa vida
pessoal abertamente: na televisão, na internet, nas rodas de
conversa, em tudo.
*Texto: Debora Rezende
Revisão: Grupo 01
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