A arquitetura disforme
da cidade de Buenos Aires, as fobias sociais e a cultura da era virtual são
determinantes para aumentar a solidão dos argentinos que moram sozinhos na
capital do país. Essa história foi contada por Gustavo Taretto no filme Medianeras – Buenos Aires da Era do Amor Digital, filmado na Argentina e na Espanha, que chegou aos cinemas
brasileiros em setembro de 2011.
Cartaz do filme / Foto: Reprodução
A história de
dois jovens solitários é contada em uma hora e meia de filme. Martín (Javier
Drolas) vive sozinho com o cachorro da ex-namorada que o deixou para morar
nos Estados Unidos. Desde então, o personagem que é um web designer (trabalha criando sites para empresas), passou a
viver trancado em seu apartamento em uma área do subúrbio da cidade –
sem janelas, sem luz e praticamente sem ar. Martín é tão incomodado com a
arquitetura e mobilidade de Buenos Aires que, até na hora de sair para passear
com o cachorro, prefere pagar para que alguém o faça. Seus únicos amigos – além
do cachorrinho – são os games e as
pessoas que conheceu nas salas de bate-papo online.
Mariana (Pilar
López de Ayala) é uma estudante de arquitetura que se refugiou em seu pequeno
apartamento depois de terminar um relacionamento de quase quatro anos de duração. Diferentemente
de Martín, Mariana consegue sair de casa, mas sempre visita os mesmos lugares
específicos aos quais chama de seu: os prédios de que mais gosta na cidade e o
observatório espacial.
"Lembra que o mundo não gira ao meu redor, que sou uma parte muito pequena de um planeta, que faz parte de um sistema, que faz parte de uma galáxia, que, como milhares de galáxias, faz parte de um universo".
A sua principal fobia é, para uma futura arquiteta, um tanto inusitada: andar de elevador. Mariana, além de
estudar arquitetura, é decoradora de vitrines de loja. Anda para lá e para
cá, nas ruas de Buenos Aires, com manequins abraçados ao corpo. A sua principal diversão, que veio
desde a infância, é procurar o Wally, do livro infantil "Onde Está Wally?". Ela já conseguiu o encontrar em todos os
lugares – exceto por um. Mesmo depois de buscar com lentes de aumento
e repetir o processo diariamente, Mariana nunca o encontrou na cidade.
Nunca.
Mariana e o manequim de plástico / Foto: Reprodução
A depressão
começa a tentar invadir o recinto dos dois jovens. Martín e Mariana são
vizinhos, agem diferente, pensam parecido, são solitários e não se conhecem. Entre
desencontros e citações de Woody Allen e Tim Burton, a história que surgiu a
partir de um curta-metragem lançado em 2005 mostra a relação entre as pessoas, a
modernidade e uma cidade que cresceu de maneira desordenada.
Talvez a principal
semelhança entre Martín e Mariana seja que os dois moram nas medianeras.
Medianeras, ou
paredes cegas, são as laterais dos prédios que viraram murais de publicidade e
já foram, no passado, locais utilizados por artistas para exibir as suas obras. As
medianeras são uma das principais prisões dos jovens, que vivem em um prédio em
frente ao outro: por conta das propagandas publicitárias, seus apartamentos não
podem ter janelas laterais. Na Argentina, a construção de janelas nas
medianeras é proibido por lei e motivo de muitas disputas judiciais no país.
As desventuras de Martín e Mariana na grande capital argentina, a sua relação com o amor e com a era digital podem caracterizar o filme como um drama urbano, triste, feliz, melancólico e belo – tão confuso e paradoxal quanto a história.
Filme completo no YouTube
*Texto: Bruna Castelo Branco
*Revisão: Grupo 01
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