Cheio
de sotaque baiano, piadas, e humor, o canal do YouTube Mais um Filmes,
produzido na Bahia e composto por atores da terra, leva as peculiaridades da
cultura baiana para todo o Brasil. A produtora +1! Filmes – veja que Mais um
Filmes é o nome do canal, e +1! Filmes, da produtora – nasceu em 2010 com o
propósito de mostrar, de maneira lúdica em formato de esquetes, o dia-a-dia do
baiano, sempre com pinceladas de ironia e exagero, dando uma personalidade
caricatural aos personagens e problematizando algumas questões sociais –
sempre, é claro ao estilo Mais um Filmes: descontraído e leve. Os
idealizadores do canal são o produtor audiovisual Uelter Ribeiro e a atriz e
também produtora, Moara Rocha.
Uelter Ribeito, produtor audiovisual, cinegrafista e roteirista do canal Mais um Filmes fazendo o trabalho de edição de uma das esquetes. Foto: Bruna Castelo Branco/Labfoto
O canal conseguiu uma grande visibilidade na internet e atinge hoje – friso o hoje porque amanhã tudo pode mudar – o número de 55.272.921 visualizações e 315.290 inscritos, sendo um dos canais baianos mais assistidos dentro e fora da Bahia. Novos filmes são postados no YouTube todas as segundas, quartas, e sextas, às 11h.
Vídeo: Guerra de Flaneinhas / Mais um Filmes
Existem
outros canais com uma proposta semelhante a do Mais um Filmes no Brasil, como,
por exemplo, o famoso Porta dos Fundos – que também faz esquetes humorísticas
ao modo nonsense, com um humor
irônico e situações cotidianas tratadas de forma exagerada e escrachada.
Vídeo: O Ladrão Brother / Mais um Filmes
Um
dos atores mais famosos e queridos pelo público que faz parte do grupo é o
baiano Pisit Mota. Bem humorado e descontraído, Pisit, 32 anos, se mostra ser
uma pessoa bem próxima àquilo que é associado à sua imagem: cômico e caricato.
Nascido em Canavieiras, sul da estado, é ator e educador. Diz que já nasceu
ator, e com um currículo com mais de 40 filmes – curtas e longas metragens –
diversas peças teatrais, e o Prêmio Braskem de Melhor Ator, tem paixão por sua
profissão. Começou com pequenos espetáculos de igreja e mudou-se para Cuiabá,
Mato Grosso, onde trabalhou com teatro de rua e acabou voltando para Salvador,
onde participou, em 2002, da peça Capitães da Areia, seu primeiro espetáculo
profissional.
Pisit Mota / Foto: Reprodução, Facebook
A
entrevista abaixo foi feita pelas repórteres Bruna Castelo Branco e Laís Matos
pela revista Lupa, produto laboratorial do curso de jornalismo da
Universidade Federal da Bahia.
Quais
são as suas perspectivas sobre o Mais um Filmes?
Acho que abriram-se
possibilidades. A [produtora] +1! Filmes trouxe possibilidades que antes nos
eram negadas. Ninguém imaginava o sucesso que ia fazer, com um humor e um
sotaque soteropolitano, sotaque baiano. Até então, os humoristas importantes
eram aqueles que vinham de outros estados para Salvador. Para ser importante,
para ser bonito, tem que seguir e se encaixar em padrões. Temos que quebrar os
padrões, e a nossa expectativa é crescer cada vez mais, crescer com artistas
baianos e também de outros lugares. Por isso é mais um, sempre abre novas
ideias, produz e mostra que aqui temos bons atores, e a nossa cultura vai
ficando cada vez mais conhecida.
O
Mais um Filmes mostra o dia-a-dia do baiano, frisando aspectos culturais. O que
você pensa sobre a divulgação dessa cultura para o resto do Brasil? Você vê o
Mais um Filmes como um instrumento de difusão?
A difusão está muito
atrasada, porque, infelizmente, se acha que cultura é só um ritmo, determinado
aspecto ou determinado artista, não se vê a cultura por inteiro. Em São Paulo
você vê cultura em todos os lugares, em viadutos, muros, performances de
artistas de rua. Há incentivo cultural e artistas trabalhando. Aqui também tem
artistas, mas não há incentivo. Outro dia peguei uma matéria de uma revista de
grande circulação que incluía os grandes artistas plásticos baianos e cadê
Marcos Caolo? Ele e outros artistas, atores, diretores, fazem um trabalho
fantástico que não é revelado. A Bahia é o único lugar em que o artista implora
por uma entrevista, implora para poder divulgar seu espetáculo. É bom deixar
isso bem claro. Com a internet, não. A internet quebra essa realidade. Se tiver
um espetáculo e eu puder divulgar, eu falo mesmo, tem que difundir a cultura,
democratizar.
Você
acha que ainda há resistência em respeitar a cultura nordestina em outras
regiões do país?
Sim. Primeiro é preciso
pensar sobre essa resistência que já começa na distribuição de verba da União
para a cultura, que para o eixo Rio – São Paulo é um valor e para o Nordeste é
outro. Mas o nordestino é sempre um forte, não é? A cultura nordestina está em
todo lugar. A palavra certa é desigualdade cultural, desigualdade de incentivo
cultural. Criticam a +1! Filmes, dizem que o nosso humor é regionalista. Não é,
pois, se fosse, não teríamos visibilidade em outras regiões e, no entanto,
temos sucesso em Porto Alegre, Recife, nos Estados Unidos e na Finlândia. Nós
recebemos propostas de empresários de São Paulo e do Rio de Janeiro que querem
investir em nossa empresa, mas não recebemos propostas respeitosas de
empresários baianos. O artista local tem que ir para fora fazer sucesso e só
depois é valorizado. Ou então se vier de uma realidade de elite. Tenho certeza
de que se meu pai fosse médico e minha mãe desembargadora, mudaria totalmente o
traço, até o cachê para trabalhar seria outro.
Como
educador e ator, qual a importância que você vê em falar sobre a cultura
baiana?
Eu acho que a cultura
baiana, para qualquer pessoa que chegar à Bahia, é marcante. Eu torço muito
para que se mude essa visão da mulher baiana, baiana da bunda bonita, sexo
fácil, trepada gostosa. Eu adoraria que divulgassem a cultura baiana como ela realmente
é, nomes de teatros, espetáculos, diretores, atores. Cultura não é só arte. Tem
a comida, praças, monumentos. Nós vivemos em uma cidade de berço cultural onde
se tem os principais monumentos sem luz à noite. É preciso valorizar nossa
cultura. Temos uma realidade em Salvador em que quem tem dinheiro e quer
cultura, compra uma passagem e vai para São Paulo. Quem fica aqui é a grande
massa.
*Texto: Bruna Castelo Branco
*Revisão: Grupo 01
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