Friday, November 14, 2014

Em qualquer mídia, noveleiros


Gosto de novela.

Inicio nossa conversa da semana já dando essa declaração polêmica. Que os avessos às tramas “água-com-açúcar” me perdoem, mas eu gosto mesmo de novela. Ah, as delícias de sentar com meu prato de miojo na frente da televisão e saborear uma emocionante trama das seis. Ou então uma divertida história das sete! Sem esquecer, claro, do emocionante folhetim das nove. É quase sempre assim.

E, como toda boa noveleira, tenho as minhas tramas favoritas. Quem não se lembra do remake que a Globo fez em 2010 de Ti-Ti-Ti? Ou da novela absurdamente linda que foi Lado a Lado? Se você nunca deu uma olhadinha pra tela da TV enquanto os folhetins passavam, amigo, te digo uma coisa: perdeu.

Foto: Reprodução / Rede Globo
Uma das cenas finais da novela Lado a Lado. Na foto, um dos casais protagonistas da trama se casam

Mas vamos imaginar que você é curioso e deseja ficar por dentro do que se passa no mundo das novelas. Ou então que, como eu, gosta de ficar dando uma relembrada nas suas tramas favoritas. O que fazer? Aqui nesse blog, é claro, temos uma premissa absoluta: apertamos o play. O YouTube, pensa o caro leitor de forma muito ajuizada e parcialmente correta. Parcialmente porque sim, de fato, o nosso buscador de vídeos favorito pode ajudar muito na empreitada de rever cenas de novelas. Mas, se você está em busca de uma trama da Rede Globo, amigo, preciso contar uma coisa: talvez não funcione exatamente como estamos acostumados. Você, chateado, pode me perguntar a razão. Você, desconfiado, pode julgar imprecisa a informação de quem humildemente escreve. Mas acontece que, conforme explicou o site TecMundo num artigo de julho de 2011, a emissora fez um acordo com o Google para que as suas novelas fossem removidas  do YouTube. Assim, aquele velho costume que tínhamos da época da pré-adolescência (confesse, você já passou por algo semelhante), de assistir o episódio de Malhação, que não foi assistido por conta do horário da escola, pelo site foi perdido. Ou, ao menos, modificado.

Se não tem um canal oficial, então o que vamos fazer? Calma. Muita calma nessa hora.

Perceba aqui a ideia da emissora carioca – referência no Brasil quando falamos de telenovela. Os episódios das tramas são retirados do YouTube e alocados num canal de vídeos dentro do site de uma ou outra novela, que por sua vez fica alocado na própria página da emissora. Neste, é possível acessar pequenos trechos da novela, rever determinados momentos em vídeos de três a cinco minutos. No entanto, se você for um assinante, pode ver, no mesmo site, os capítulos na íntegra. Percebe a jogada inteligente?

Essa característica de trazer um pouco do mundo da novela para a internet se encaixa no conceito de crossmedia. Segundo Cristine Finger em seu artigo “Crossmedia e Transmedia: desafios do telejornalismo na era da convergência digital”, de 2011, podemos chegar ao conceito de crossmedia como sendo “um processo de difusão de conteúdo em diversos meios”. Segundo a autora, o conteúdo não precisa ser idêntico, ainda que, no caso particular em que estamos analisando aqui, ele o seja.

Pensando na jogada “crossmediática” de ter uma aba de vídeos que transporte o conteúdo para a internet, vamos voltar a uma novela que fez isso – e muito mais – de maneira bem notável: Cheias de Charme, um dos meus folhetins recentes favoritos. Em 2012, a trama foi sucesso por trazer diversos elementos novos para o gênero. Primeiro, a própria história inova em termos de enredo quando apresenta três empregadas domésticas como protagonistas. Depois, porque a narrativa apresentava marcas de musical, o que não é muito comum quando falamos de novelas. Terceiro: ela teve uma conexão direta com a internet.

Clipe do hit Vida de Empreguete, da novela Cheias de Charme

Os clipes do grupo fictício “As  Empreguetes” eram divulgados primeiro no site da emissora, para só então serem efetivamente exibidos na trama. Essa relação evidencia a relação de crossmedia presente no eixo televisão-site. Não ficou por aí. A história deu tão certo que se elevou de apenas um novo suporte para uma vertente transmedia: a internet passou a influenciar e complementar a trama. Ainda segundo o artigo de Cristine Finger, trasmedia “é a integração de conteúdos e meios com o objetivo de evidenciar a colaboração do usuário, que passa a ter vez e voz. Ele é o foco das atenções, como inventor de produtos e narrador de experiências”. Em Cheias de Charme, quando é lançado o concurso “A Empregada Mais Cheia de Charme do Brasil”, vemos exatamente isso.

O concurso era simples: grave uma paródia da sua empregada no hit Vida de Empreguete, mande para a gente e a mais votada poderá aparecer em um capítulo da novela. Foi o que aconteceu. Os vídeos eram hospedados no YouTube, enviados para a emissora, votados no site oficial da novela e, no fim, Marilene de Jesus, de Salvador, foi escolhida para participar da novela através de votação popular. Percebeu a trajetória percorrida pela trama em diversos meios, sendo eles complementares para a novela?


Marilene foi escolhida para participar da novela através do concurso A Empregada Mais Cheia de Charme do Brasil

Agora, para continuar mandando a saudade do que foi uma das minhas novelas favoritas (os românticos de plantão vão lembrar com carinho da história de Cida e Elano, um conto de fadas moderno), é hora de retomar ao play e assistir aos vídeos da novela que são disponibilizados no site oficial de Cheias de Charme. Você, se for um noveleiro, assumido ou não, está mais do que convidado a me acompanhar.

Quando não, aperta o play em outra coisa! Tem sempre um mundo de conteúdo – é só saber o que e onde procurar.

*Texto: Debora Rezende
*Revisão: Grupo 01

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