Se
há alguma palavra capaz de representar o processo de construção – ou reprodução
–da informação na internet, ela seria compartilhamento. Qualquer pessoa
conectada a uma rede tem condições de produzir textos, vídeos, músicas ou
qualquer outro tipo de conteúdo digital. E quando um dado é jogado na rede, um
mundo de possibilidades se abre a partir daí.
Imagem: Reprodução
O
fluxo de informações é constante, permite a mudança de uma linguagem para outra
ou de uma plataforma para outra muito rapidamente. Não importa se são quadrinhos
que dão origem a filmes ou canais do YouTube que dão origem a um programa de TV:
toda essa metamorfose midiática e cultural é proveniente da Cultura de
Convergência. O termo, proposto por Henry Jenkins, relaciona a hibridização dos
produtos das novas e velhas mídias. O autor explica que a reapropriação de
conteúdos e produção midiática cooperativa são os traços marcantes do atual
cenário cultural. De acordo com Jenkins, todas as principais mídias estão, de
alguma forma, convergindo para a internet, permitindo que os usuários
compartilhem experiências e troquem informações.
Cultura da Convergência, Henry Jenkins / Foto: Divulgação
E é fácil ver a aplicação
disso nos programas de TV que funcionam a partir de votações ou fóruns na
internet, atrações televisivas que exibem conteúdos produzidos pelo público ou
até grupos de fãs de um mesmo conteúdo que se reúnem para produzir algo
relacionado. É aí que a discussão chega em um ponto interessante: quando nascem
as fanfictions. O termo se refere às
histórias criadas por fãs de determinada obra: seja um livro, um filme ou uma
série, as pessoas que apreciam a narrativa se aproveitam de elementos da trama
original para criarem suas próprias histórias. Assim, as fanfictions são postadas em sites que reúnem essas histórias
criadas por fãs. O objetivo é reunir fãs que se dedicam a construir um universo
que vai além das obras.
Imagem: Reprodução
O
maior exemplo de obra fruto da convergência midiática conceituada por Jenkins talvez
seja a série de livros Cinquenta tons de cinza,
de E. L. James. A origem da trilogia começa um pouco antes, quando Stephenie
Meyer resolve lançar Crepúsculo, uma série
de livros criada para adolescentes que alcançou um grande número de vendas em
vários países : 120 milhões de exemplares vendidos ao redor de todo o mundo.
Sucesso que resulta em uma adaptação cinematográfica – do livro para o cinema –,
em vídeos para o YouTube, virais em redes sociais e uma legião de jovens
adoradores de vampiros. Obviamente, estouram fanfictions de Crepúsculo que convergem para os mesmos interesses
e, no meio delas, uma história consideravelmente semelhante à original ganha
destaque: Cinquenta tons de cinza, a história de uma mulher insegura que se apaixona
por um homem que oferece riscos a ela, que aceita sem pestanejar. Muito
romântico.
Foto: Capa do livro "Cinquenta tons de cinza" em português
No
entanto, Cinquenta tons de cinza é, em tese, voltado para um público mais maduro, por
ter um conteúdo erótico que atinge mulheres mais bem resolvidas e
independentes. A história vira livro – que se esgota rapidamente nas prateleiras
das livrarias – e quem lê pode perceber que a linguagem se manteve muito
parecida com a das fanfictions. Como consequência,
atinge rapidamente o publico jovem e ganha repercussão por se associar a temas
considerados tabus como submissão e machismo. E, como previsto, Cinquenta tons de cinza gera conteúdo nas mais diversas plataformas digitais, e, como a sua fonte de
inspiração (Crepúsculo), acaba virando filme.
Revista americana falando sobre o filme, que ainda terá a sua estreia no cinema, Cinquenta tons de cinza / Foto: Reprodução
Se
formos acompanhar a cadeia de conteúdos e produtos culturais que se
reconfiguram para atender as demandas das próprias pessoas que a produzem,
vemos que é algo que não tem dimensão. Um livro que origina uma fanfic, que se tranforma em livro, que
por sua vez vai para o cinema (lembrando que o primeiro livro também virou
filme), e que, hoje, acabou gerando uma serie de novas fanfics – a fanfic da fanfic –. A questão é que essa cadeia
não termina aí: não dá para mensurar toda a rede de conteúdos que ela origina mesmo que indiretamente.
Trailer legendado de Cinquenta tons de cinza
É a definição prática de quando Henry Jenkins diz: “O fluxo de conteúdos através de múltiplas
plataformas de mídia, a cooperação de múltiplos mercados midiáticos e o
comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação que vão a quase
qualquer parte em busca das experiências de entretenimento que desejam”.
*Texto: Laís Matos
*Revisão: Grupo 01
No comments:
Post a Comment