Uma das melhores coisas
que se pode ter na vida é comer aquele nosso prato favorito,
concorda? Mas, às vezes, queremos variar nosso cardápio e comer
algo diferente, nunca experimentado anteriormente ou uma comida que
há muito não comemos e simplesmente não lembramos a receita. O que
fazer? Podemos lançar o nome da comida no Google e esperar uma
resposta à altura ou nos jogar na magia do Youtube e procurar um
canal que nos transmita tal conhecimento.
Recentemente, tive uma
vontade de comer o tradicional pão com ovo e corri maquinalmente
para a cozinha objetivando concretizar o meu desejo. Porém, parado
na cozinha, decidi jogar isso no Google pelo celular e de aba em aba
acabei chegando a um vídeo, do canal “Cozinha para 2”, que
ensinava a fazer um simples misto quente, com o título de Misto
Quente Hipster. O vídeo era muito simpático. Primeiro, eles
mostravam quais os ingredientes, depois passo a passo do que
deveríamos fazer com cada um dos ingredientes e, por fim, um casal
comendo o prato pronto. Era tudo muito simples, afinal era um simples
misto quente. Deveríamos pegar duas fatias de pão integral, cortar
parte do miolo em seu centro em forma de coração e recheá-lo com
queijo e presunto, jogando um ovo no lugar de onde retiramos o miolo.
Depois, deveríamos levá-lo ao forno pré-aquecido por 25 minutos a
200°C. Não fiz isso, pois estava faminto e daria trabalho demais
seguir a receita, mas achei tudo muito conceitual, hipster, como
dizia o próprio título do vídeo. Porém, levei a ideia para uma
amiga no dia seguinte que falou com outra amiga por facebook que
disse que faria tal receita para o namorado. Ufa! Que rede essa
informação gerou.
A ideia de rede já
havia sido usada na mitologia através do imaginário da tecelagem e
do labirinto, na Antiguidade, ela era metaforicamente comparada ao
organismo (nosso sistema de veias e artérias) e aparece na língua
francesa (como réseau) no século XII. Entretanto, apenas na virada
do século XVIII para o século XIX, o termo rede se atualizou para o
conceito que possui atualmente, servindo para designar, de forma
genérica, entidades, pessoas ou (por que não?) informações que
encontram-se, de alguma forma, interligado uns aos outros. Essa
informação – a receita do misto quente hipster – circulou por
um grupo de pessoas a partir do momento em que eu apertei o play do
vídeo do canal “Cozinha para 2” que ensinava a fazer tal
receita. Sabe-se lá, nesse emaranhado de pessoas que passaram a
compor essa rede, a quem essa informação chegou. E olha que isso
foi uma besteira! Imagina, por exemplo, como a informação da morte
do ex-candidato a Presidência da República, Eduardo Campos, não
circulou entre milhões de brasileiros, seja por meio de uma rede
social ou uma rede telefônica ou nossa própria rede de neurônios?
Mas, voltando ao vídeo
do Youtube, decidi retornar ao canal para ver exatamente do que ele
se tratava e descobri que ele abrigava várias receitas, muitas delas
bem fáceis de serem preparadas. Fiquei impressionado! Apertei o play
várias vezes naquele dia. Voltei ao canal outro dia para seguir a
receita de uma pizza burguer que vi por lá. Bem fácil de se fazer!
Reproduzi sem muito esforço a receita e realmente era ótima. O que
eu estava realizando ali foi transformar algo da esfera do virtual em
atual. Por que atual e não real? Segundo o filósofo francês,
Pierre Levy, o antônimo de virtual é o atual, pois esse virtual
significa que tal coisa existe em potência, mesmo que essa potência
não venha a ser convertida em ato. Caso aja essa transformação,
ela estará na esfera do atual. Enquanto que o que é irreal seria o
verdadeiro oposto do real, pois os elementos da esfera do irreal não
existem, nem no plano da potência, nem no plano do ato em si. No
momento em que eu executei essa receita vista no vídeo, transformei
essa potência que era a receita num ato consumado que foi a minha
pizza burguer.
Voltei, então, ao
vídeo para deixar meu comentário e percebi que várias pessoas já
haviam comentando alguma coisa a respeito do vídeo. Umas tinham dito
que o prato era uma delícia, outros diziam que era uma boa
alternativa em dias que estivessem com preguiça de cozinhar...
Enfim, percebi que os comentários do vídeo se tratavam de uma
verdadeira rede de comunicações, muito similar às comunidades no
Orkut ou às postagens no Facebook, onde você pode deixar sua
opinião sobre o vídeo como um novo comentário ou responder a um
comentário já feito, concordando ou discordando dele. E nesse
ritmo, outra pessoa pode responder ao seu comentário e vocês podem
iniciar uma verdadeira rede de comunicação, envolvendo duas, três,
quatro, mil pessoas que se sintam a vontade para responder o seu
comentário. Essa rede de comunicação, formada nos comentários dos
vídeos no YouTube, em nada se diferenciam das demais redes de
comunicação, como acontece com uma ligação telefônica ou, de
maneira mais similar, a um chat em grupo aberto, onde quem quiser se
“intrometer” na conversa, pode fazê-lo sem nenhum problema.
Foto: Reprodução
Bom, todo esse papo de vídeos sobre comida me deu a maior fome. E já que estou falando sobre um canal que posta várias receitas simples, irei dar o play em algum vídeo contendo a receita de um prato rápido e suculento para o meu lanche. Até mais!
*Texto: Eduardo Bittencout
*Revisão: Grupo 01
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