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A Polegarzinha vive em uma dinâmica muito própria do seu
tempo. Seus pais não compreender a razão pela qual ela gosta tanto de mexer
seus dedos em velocidade assustadora (“Como ela consegue digitar tão rápido
nesse negócio?”, admira-se a mãe da Polegarzinha), muito menos o que a motiva a
carregar o aparato para todos os lados, recusando-se veementemente a abdicar de
sua posse em plenas funções, mesmo que por pouco tempo (“Se não tiver sinal de
telefone, não contem com a minha presença!”, reclama a Polegarzinha frente a
uma viagem de fim de ano para a fazenda).
"Sem recepção de celular? Bom"
Foto: MakeAMeme
Foto: MakeAMeme
Ela pensa em outra velocidade, em outra frequência. O que é
importante para seus pais, tios e tias pode não ser o que nossa Polegar tem em
mente. E, fascinante, seu pensamento voa em múltiplas direções, absorto em
múltiplas possibilidades: ela treina francês com um aplicativo novo, conversa
em inglês com um amigo da Califórnia que conheceu numa comunidade virtual sobre
os livros de Harry Potter, ouve uma banda iraquiana enquanto lê sobre seus
chacras. A Polegarzinha está em todos os lugares.
Às vezes as pessoas a entediam. Às vezes ficar no mesmo lugar
por mais de uma hora a deixa em desespero. Quando proíbem o uso do seu artefato
favorito, ela muitas vezes surta. Quer se mover, falar, ouvir, curtir,
comentar, compartilhar, ler coisas novas e curiosidades no 8Fact, rir com as boas piadas do
9Gag. Às vezes, para escapar, escreve um tweet quando ninguém está olhando:
“Contrabandeando o celular. #Tédio”.
A sua lógica não é a mesma da de seus pais, sabemos. Não é a
lógica de seus professores. Não é a lógica das autoridades que dão manutenção
ao sistema no qual a Polegarzinha está inserida – mesmo quando é francamente
incompatível a ele.
Mas, afinal, um dia a Polegarzinha se viu exatamente onde não
queria estar: aprisionada na lógica do trabalho, aquele sobre o qual ela viu e
ouviu os pais reclamando a vida todo, chegando em casa de noite, cansados e
frustrados. Ali, a Polegarzinha não fala e não tem vez. Quieta! Obedeça! Faça
seu trabalho! Não fale.
Ela quer falar. “Desse jeito está errado”, pensa. “Ninguém
mais faz as coisas assim”, observa. Mandam-na preparar um texto que sabe que
ninguém nunca vai ler. Mandam-na entregar um bilhete. Bilhete! Mandam-na
atender uma ligação e anotar o recado. A Polegarzinha se incomoda. Pensa nos
lugares maravilhosos sobre os quais ouviu e leu. Trabalhos que não parecem
trabalhos, pela simples ideia de que não robotizam seus funcionários, dando
liberdade e possibilidades com as quais a Polegarzinha só pode sonhar. E ela
sonha!
Foto: Reprodução
Junto à sua trupe de polegares, ela almeja voos maiores.
Almeja dias em que a transição pela qual vê o mundo passando finalmente alcance
o próximo nível. A Polegarzinha sabe – ela compreende muitas coisas. Usa sua
cabeça móvel muito mais do que acreditam, para muitas outras finalidades. Ela
determina seu uso, e ri com as múltiplas denominações de “cabeça de vento” que
recebe. Sábia, ignora. A Polegarzinha aprendeu a evoluir seu espírito junto com
seus polegares – que esse dia vai chegar.
Quando chegar, as múltiplas vozes que hoje falam sem cessar
vão explodir. Em coro, ela vai gritar e se libertar. Visionária, compreende que
essa mudança está chegando e está louca para abraçá-la. A Polegarzinha faz
parte de uma nova geração de cabeças móveis que está doida para se por à prova
e mostrar o seu valor. Cabeças pululantes que se socializam em diferentes
meios, que falam de diferentes tópicos (junto aos seus Polegares, consegue ir
de seriados até política em questão de minutos) e querem construir um lugar
melhor.
A Polegarzinha só precisa de um sinal verde que a permita
seguir em frente.
*Post por: Debora Rezende
*Revisão: Grupo 01
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