Friday, October 24, 2014

Socorram a Polegarzinha!

Paremos o play por um segundo. Apertem o pause.

A Polegarzinha vive em uma dinâmica muito própria do seu tempo. Seus pais não compreender a razão pela qual ela gosta tanto de mexer seus dedos em velocidade assustadora (“Como ela consegue digitar tão rápido nesse negócio?”, admira-se a mãe da Polegarzinha), muito menos o que a motiva a carregar o aparato para todos os lados, recusando-se veementemente a abdicar de sua posse em plenas funções, mesmo que por pouco tempo (“Se não tiver sinal de telefone, não contem com a minha presença!”, reclama a Polegarzinha frente a uma viagem de fim de ano para a fazenda).

"Sem recepção de celular? Bom"
Foto: MakeAMeme

Ela pensa em outra velocidade, em outra frequência. O que é importante para seus pais, tios e tias pode não ser o que nossa Polegar tem em mente. E, fascinante, seu pensamento voa em múltiplas direções, absorto em múltiplas possibilidades: ela treina francês com um aplicativo novo, conversa em inglês com um amigo da Califórnia que conheceu numa comunidade virtual sobre os livros de Harry Potter, ouve uma banda iraquiana enquanto lê sobre seus chacras. A Polegarzinha está em todos os lugares.

Às vezes as pessoas a entediam. Às vezes ficar no mesmo lugar por mais de uma hora a deixa em desespero. Quando proíbem o uso do seu artefato favorito, ela muitas vezes surta. Quer se mover, falar, ouvir, curtir, comentar, compartilhar, ler coisas novas e curiosidades no 8Fact, rir com as boas piadas do 9Gag. Às vezes, para escapar, escreve um tweet quando ninguém está olhando: “Contrabandeando o celular. #Tédio”.

A sua lógica não é a mesma da de seus pais, sabemos. Não é a lógica de seus professores. Não é a lógica das autoridades que dão manutenção ao sistema no qual a Polegarzinha está inserida – mesmo quando é francamente incompatível a ele.

Mas, afinal, um dia a Polegarzinha se viu exatamente onde não queria estar: aprisionada na lógica do trabalho, aquele sobre o qual ela viu e ouviu os pais reclamando a vida todo, chegando em casa de noite, cansados e frustrados. Ali, a Polegarzinha não fala e não tem vez. Quieta! Obedeça! Faça seu trabalho! Não fale.

Ela quer falar. “Desse jeito está errado”, pensa. “Ninguém mais faz as coisas assim”, observa. Mandam-na preparar um texto que sabe que ninguém nunca vai ler. Mandam-na entregar um bilhete. Bilhete! Mandam-na atender uma ligação e anotar o recado. A Polegarzinha se incomoda. Pensa nos lugares maravilhosos sobre os quais ouviu e leu. Trabalhos que não parecem trabalhos, pela simples ideia de que não robotizam seus funcionários, dando liberdade e possibilidades com as quais a Polegarzinha só pode sonhar. E ela sonha!

Foto: Reprodução

Junto à sua trupe de polegares, ela almeja voos maiores. Almeja dias em que a transição pela qual vê o mundo passando finalmente alcance o próximo nível. A Polegarzinha sabe – ela compreende muitas coisas. Usa sua cabeça móvel muito mais do que acreditam, para muitas outras finalidades. Ela determina seu uso, e ri com as múltiplas denominações de “cabeça de vento” que recebe. Sábia, ignora. A Polegarzinha aprendeu a evoluir seu espírito junto com seus polegares – que esse dia vai chegar.

Quando chegar, as múltiplas vozes que hoje falam sem cessar vão explodir. Em coro, ela vai gritar e se libertar. Visionária, compreende que essa mudança está chegando e está louca para abraçá-la. A Polegarzinha faz parte de uma nova geração de cabeças móveis que está doida para se por à prova e mostrar o seu valor. Cabeças pululantes que se socializam em diferentes meios, que falam de diferentes tópicos (junto aos seus Polegares, consegue ir de seriados até política em questão de minutos) e querem construir um lugar melhor.


A Polegarzinha só precisa de um sinal verde que a permita seguir em frente.

*Post por: Debora Rezende
*Revisão: Grupo 01

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