Friday, December 5, 2014

Na era dos streamings, aperte o play

Todo artista que visa o sucesso em sua carreira musical deve estar atento às novas demandas do mercado. Mais do que medir se uma música é comercial ou não, as paradas musicais de cada país servem para retratar o interesse do público em determinada canção, utilizando-se de critérios específicos que podem variar de país para país.

Foto: Reprodução

É um consenso que a principal parada musical mundial é a Billboard que muito além de uma revista norte-americana, mostra quais as músicas que estão no gosto do povo estadunidense semanalmente. Indiscutível que toda essa importância da Billboard está atrelada a relevância dos Estados Unidos no comércio e na política mundial. Entretanto, as paradas de sucesso americanas têm uma metodologia tão organizada que além de medir as 100 músicas de maiores sucessos no país, a publicação retrata também esse sucesso em seguimentos de determinados gêneros: como o Pop, o R&B/Hip Hop, o Country, o Rock, o Gospel, dentre outros seguimentos de rádios. Aqui vou me deter na metodologia utilizada pela revista americana Billboard para decidir quais as 100 músicas de maior sucesso na semana no país: a revista utiliza a audiência nas rádios (que é cumulativa), as vendas digitais de cada música durante a semana e os streamings (serviços on demand, como o Spotify, e visualizações no YouTube). Para esse tripé – audiência, vendas, streamings – a Billboard distribui pesos diferentes. Atualmente, os streamings possuem peso maior, seguido pelas vendas digitais e a audiência com um peso levemente inferior.

A verdade é que com a força dos streamings, apertar o play do vídeo de seu artista favorito nunca colaborou tanto para o sucesso dele como vem acontecendo desde 2012. Alguns casos são mais válidos para retratar essa realidade: os vídeos de “Ai Se Eu Te Pego!”, “Gangnam Style”, “Halem Shake”, “Wrecking Ball” e “Anaconda”. Desses cinco, apenas os dois últimos estão contidos dentro do canal VEVO, que é o canal utilizado pelos artistas para fazerem upload de seus vídeos oficiais. Entretanto, as visualizações para a contagem de streaming só servem dos usuários que estão no país de onde é a parada musical. Um acesso de um brasileiro que esteja no Brasil não contará para as paradas musicais americanas, porém se um brasileiro acessar um vídeo estando nos Estados Unidos, então esse acesso é contabilizado.

Vídeo oficial da canção "Anaconda"

Antes de explicitar a relevância dos streamings com pequenos estudos de caso, vale ressaltar que a metodologia que a Billboard utiliza para contabilizar as paradas musicais americanas passou a ser usada também por outras paradas musicais de outros países com o passar do tempo, a exemplo do Reino Unido que quebrou uma tradição onde as vendas semanais detinham quase todo o peso sobre a ordem dos charts semanais e passou a fornecer uma parcela de significância aos streamings. Países como a Espanha, por exemplo, já possuem uma parada musical destinada inteiramente aos streamings realizados no país. O Brasil, infelizmente, ainda não possui uma parada musical que seja inteiramente segura, cabendo ao Crowley Broadcast Analysis monitoras as estações de rádios do país, sem haver divulgação de vendas semanais dos singles no iTunes brasileiro (embora as vendas por esse serviço no Brasil ainda sejam bem pequenas), nem quantidade de execuções de um determinado vídeo no YouTube, como acontece em países como Estados Unidos e Reino Unido.

Já no ano de 2010, os vídeos passaram a atingir muitas visualizações em pouco tempo, com Bad Roamance de Lady GaGa, Baby de Justin Bieber e Waka Waka da Shakira, passando rapidamente dos 300 milhões de acessos em pouco tempo. No ano seguinte, On the Floor superou o vídeo da artista pop Lady GaGa e se tornou o vídeo feminino mais visto de todos os tempos, posição que ocupa até o momento. Foi nesse ano também que o cantor sertanejo brasileiro Michel Teló atingiu o topo das paradas de países como Portugal, Espanha, Alemanha, Bélgica, Suíça, França, dentre tantos outros, e começou a ganhar muitos acessos para um vídeo brasileiro. Atualmente, o vídeo da canção “Ai Se Eu Te Pego!” possui mais de 500 milhões de visualizações e, graças ao sucesso da canção nas rádios latinas dos Estados Unidos e dos acessos dos americanos ao vídeo da música, Teló se tornou o primeiro brasileiro a aparecer no Hot 100 da Billboard desde que Sérgio Mendes ingressou pela última vez nessa parada musical, no final da década de 1970.

Vídeo oficial da canção "Ai Se Eu Te Pego!"

Se o caso de Michel Teló já teve uma grande repercussão, os dois casos seguintes redefiniram o significado de sucesso no YouTube. Assim como a canção de Teló, o vídeo de Gangnam Style, do rapper sul-coreano PSY, não estava cadastrado no canal VEVO. O sucesso da música foi ainda maior do que aconteceu com Teló e PSY viu seu single de trabalhar chegar ao topo das principais tabelas musicais de todo o mundo. Mas, para além do seu sucesso nos charts, não foi a rádio quem impulsionou o sucesso de “Gangnam Style”, mas sim os acessos ao seu polêmico vídeo. A dança do cavalo, uma das marcas do vídeo que, segundo o próprio rapper é uma paródia da burguesia sul-coreana, nunca foi tão acessada como com esse vídeo. Não foi com dificuldades que “Gangnam Style” se tornou o vídeo mais visto da história do YouTube, possuindo mais de 2 bilhões de acessos e quebrando o recorde do número de visualizações que o YouTube esperava que algum vídeo pudesse chegar algumdia. O sistema estava preparado pata atender vídeos que alcançassem até 2.147.483.647 visualizações, número que “Gangnam Style” ultrapassou já há alguns dias.

Vídeo oficial da canção "Gangnam Style"

Outro caso particular que gerou bastante polêmica – e levou a Billboard a questionar o poder dos streamings – é o de Halem Shake. Dessa vez, não foi o vídeo oficial produzido pelo DJ Baauer para sua música, mas várias paródias de 30 segundos, com pessoas variadas (ou montagens de filmes, vídeos) em que um trecho da música era tocado. As paródias de Halem Shake que eram hospedadas no YouTube se espalharam como viral em diversos países, inclusive no Brasil. Nos Estados Unidos, pela primeira vez na história das paradas musicais do país, uma música que não havia sido nem a mais vendida, nem a mais executada pelas rádios na semana chegava ao topo da principal tabela musical do país. A canção do DJ Bauer chegou ao top 10 de inúmeros países, como Reino Unido, França e Austrália, porém foi desapareceu cerca de dois meses e meio depois, de forma tão abrupta como surgiu.

Compilação de 5 paródias com trechos da música "Halem Shake"

Para finalizar, não apenas vídeos inusitados e engraçados viralizaram após o sucesso do YouTube e, principalmente, do canal VEVO. Os polêmicos vídeos de Miley Cyrus (2013) e Nicki Minaj (2014) atingiram recordes de acessos em 24 horas para um vídeo hospedado no VEVO. No dia 9 de setembro de 2013, era lançado o vídeo Wrecking Ball, segundo single do álbum Bangerz, de Miley Cyrus. Em 24 horas, o vídeo obteve 19,3 milhões de visualizações, se tornando o vídeo mais assistido no canal VEVO em seu dia de estreia. A repercussão do polêmico clipe musical levou a artista ao topo de importantes tabelas musicais, como Estados Unidos, Reino Unido e Nova Zelândia, além de se figurar no top 10 de diversos outros países, como França, Bélgica e Alemanha. No Brasil, a canção obteve sucesso semelhante, não tanto nas rádios que atualmente são dominadas por canções do sertanejo, mas, principalmente, em plataformas digitais e de streamings. A letra de Wrecking Ball ficou cerca de 1 mês e meio como a mais acessada no site de letras e cifras Vagalume. Em 6 dias, o vídeo de Cyrus conseguiu superar a marcade 100 milhões de acessos na plataforma VEVO, recorde que detém até hoje. Além disso, é possível encontrar inúmeros covers e paródias do vídeo, uma delas tão popular que atingiu a marca de 100 milhões de acessos. 

Vídeo oficial da canção "Wrecking Ball"

Com sucesso relativamente menor, mas impacto semelhante, o vídeo de Anaconda de Nicki Minaj superou o recordeque pertencia a Wrecking Ball e obteve 19,6 milhões de acessos em 24 horas e atingindo a marca de 100 milhões cerca de 10 dias após o lançamento. Apesar de não conseguir atingir o topo de nenhuma tabela musical oficial, Anaconda figurou no top 10 de países como Austrália, Canadá e Irlanda e mostrou que o poder dos streamings vem crescendo cada vez mais, não apenas pelos serviços de on demand, com a popularização de serviços de música como Spotify e Xbox Music, mas, principalmente, com o acesso a vídeos no YouTube ou em outras plataformas de vídeos, como o Dailymotion. Então, se em seu país as tabelas musicais contam as visualizações para medir o desempenho do single, então corra ao YouTube, aperte o play e ajude seu artista favorito a atingir uma boa posição nos charts. Caso contrário, aperte o play apenas por apertar e confira os mais variados vídeos musicais hospedados no site, que vão desde danças icônicas, como Single Ladies da Beyoncé, até apresentações de rock, como a apresentação ao vivo de Blackbird da banda Alter Bridge. 

                                                                                                                 *Texto: Eduardo Bittencourt
*Revisão: Grupo 1

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